Em 2018, o e-commerce na América Latina totalizou US $ 109 bilhões [1]- isso inclui todas as formas de transações sem cartão presente, englobando México, América Central, América do Sul e Caribe, e incluindo varejo, viagens e bens digitais, e-commerce doméstico e internacional, e todos os meios de pagamento. Com crescimento anual de 20%, esses US$ 109 chegarão a US$ 187 bilhões até 2021 (veja a Figura 1).
Essa visão global do comércio eletrônico permite que os comerciantes percebam a força do crescente ambiente digital na América Latina. Além disso, o e-commerce transfronteiriço [2] está crescendo mais que o dobro do que o e-commerce doméstico, em 42% anuais até 2021. Atraídos por marcas internacionais em razão de preço, variedade e segurança oferecidos na experiência de compra on-line, os latino-americanos estão cada vez mais procurando fora de sua região por uma infinidade de bens e serviços.
No entanto, nem todo e-commerce é tratado da mesma forma e existem barreiras que limitam a capacidade de comerciantes venderem na América Latina, especialmente se eles não processam suas transações localmente. Devido à diversidade de métodos de pagamento em cada mercado local e a nuances de comportamento e preferências do cliente, ter uma estratégia de pagamento local é essencial para acessar 100% do mercado atingível.
Barreiras de pagamento limitam o comércio transfronteiriço; formas de pagamento local representam 68% dos gastos on-line.
Estruturalmente, a América Latina difere de outras regiões do mundo no que diz respeito a métodos de pagamento. Em geral, os cartões de crédito habilitados internacionalmente representam apenas 32% do total dos gastos com comércio eletrônico, o que significa que a maior parte do mercado representa métodos de pagamento oferecidos localmente (veja a Figura 2).
Assim, para realmente penetrar nos mercados latino-americanos e aproveitar o crescimento anual de 20%, os comerciantes devem estar conectados aos adquirentes locais de cartões e a métodos alternativos de pagamento. As principais considerações que se deve ter ao desenvolver essa estratégia podem ser resumidas em três pontos:
1. A titularidade do cartão de crédito é limitada e nem todos os cartões podem ser usados on-line
O Banco Mundial relata que, em média, apenas 19% dos adultos latino-americanos possuem cartão de crédito. Além disso, bancos costumam restringir o uso do cartão de crédito. Em vários mercados, incluindo Brasil, Argentina e Chile, cerca de 70% dos cartões de crédito não são habilitados para uso internacional, o que impede seus portadores de fazer compras on-line em estabelecimentos fora de seu país de origem. Isso limita a capacidade dos comerciantes venderem a titulares de cartões da América Latina.
A penetração de cartões de débito é melhor na região (42%) e hoje este é o método de pagamento que mais cresce no comércio eletrônico. Isso ocorre porque, no passado, a maioria dos bancos restringia os cartões de débito para uso no comércio eletrônico, emitindo-os sem um código CVV. Agora, os bancos estão suspendendo essa restrição, desbloqueando o uso de cartões de débito para comércio eletrônico, mas apenas uma minoria de cartões de débito na América Latina ainda pode ser usada internacionalmente.
Finalmente, para os comerciantes que processam transações internacionais com cartões de crédito, as autorizações raramente superam 35%, em média. Tal se dá porque os emissores latino-americanos geralmente recusam transações internacionais, mesmo que haja fundos disponíveis, por falta de dados suficientes sobre o comerciante e o adquirente / processador internacional. Comerciantes que processam cartões através de um adquirente local experimentam taxas muito melhores, normalmente de 75% a 85%.
2. Dinheiro e outras formas de pagamento alternativas compõem 22% do total dos gastos com comércio eletrônico
Apesar dessas restrições ao uso de cartões on-line, existem 159 milhões de consumidores on-line na região, o que equivale a 35% da população adulta; portanto, cerca de 15% dos compradores on-line dependem de métodos de pagamento que excluem o cartão. Isso pode incluir vouchers, como o famoso boleto bancário do Brasil e a rede de pagamentos Oxxo do México. Nesses casos, os clientes imprimem (ou recebem em seu dispositivo móvel) um voucher gerado pelo sistema, que eles levam para um banco afiliado ou loja de conveniência para pagar em dinheiro.
Embora pareça inconveniente, esse método de pagamento é a melhor opção para e-consumidores que não possuem um cartão de crédito - o pode incluir os abastados -, têm medo de usar o cartão de crédito on-line ou simplesmente preferem usar dinheiro.
Apesar do avanço da revolução digital na América Latina, o dinheiro ainda está profundamente arraigado no dia-a-dia dos consumidores, representando cerca de 80% das compras físicas de varejo na região.[3] As plataformas digitais que operam no mundo físico, como o Uber, tiveram grande sucesso ao aceitar dinheiro; em mercados como México e Peru, este meio representa cerca de 50% de todos os pagamentos do Uber. As plataformas de delivery de alimentos experimentam algo semelhante. Evidências pontuais nos dizem que, como nas plataformas de delivery Glovo e PedidosYa, até 70% dos pedidos são pagos em dinheiro.
A preferência dos compradores por meios alternativos de pagamento não precisa ser um obstáculo para os comerciantes internacionais, pois a verdade é que muitos latino-americanos preferem sites internacionais a sites domésticos, devido ao preço e à variedade de produtos que oferecem. Os comerciantes podem aproveitar essas preferências conectando-se a métodos locais de pagamento em dinheiro e redes ACH (Automated Clearing House). Isso aumenta o mercado atingível dos comerciantes em 33%.
3. O método de pagamento utilizado depende muito do valor do produto
Na vida cotidiana da América Latina, o cartão de crédito normalmente não é visto como um método de pagamento; é visto como uma ferramenta para acessar o financiamento. Cartões de débito e dinheiro são usados para a maioria das compras diárias; o crédito é reservado para itens de alto valor que talvez precisem ser financiados, especialmente se houver promoções especiais ou ofertas de financiamento sem juros. As parcelas sem juros são extremamente populares em mercados como Brasil, Argentina e México, onde os bancos realizam acordos especiais com comerciantes para oferecer financiamento aos clientes no ponto de venda.
No Brasil, em 2018, 58% das compras de varejo no comércio eletrônico foram feitas usando pelo menos duas parcelas (e até 12) [4].
O comércio eletrônico não é exceção, e os comerciantes que estão conectados aos adquirentes de cartões locais podem oferecer parcelamentos a seus clientes. Para os comerciantes de tíquete baixo, especialmente aqueles cujos produtos atraem jovens - jogos online, entretenimento, mobilidade etc. - a aceitação de cartões de débito está se tornando cada vez mais importante.
[1] Análise da AMI baseada em fontes locais de domínio público e entrevistas aprofundadas com agentes do setor.
[2] Definido como intenção de compra em um comerciante localizado física e legalmente fora do país de origem do comprador
[3] Americas Market Intelligence, 2019. "A América Latina está perdendo a guerra por dinheiro." https://americasmi.com/insights/latin-america-is-losing-the-war-on-cash/
[4] Ebit, 2019: Webshoppers, 39ª Edição.
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